segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mais mortes e Mais descaso



Em Guarapari, os afogamentos são frequentes no verão, mas, agora parece que está virando rotina. Não quero aqui apontar culpados, quero falar daqueles que não são culpados.

Vitimas sendo atendidas na areia da praia.
Na tarde de hoje 17 de setembro de 2012, por volta das 16 horas e 30 minutos fomos pegos de surpresa pela noticia de que estava em andamento uma ocorrência de afogamento, entre a praia do Riacho e uma pequena praia conhecida como "Praia das Pelotas", fui um dos primeiros a chegar. Eram quatro crianças! Isso mesmo quatro crianças!

A mais velha Thais, uma adolescente morena de cabelos cacheados na altura dos ombros, foi socorrida pelos salva-vidas e bombeiros, outra menina de 10 anos está desaparecida e as buscas serão iniciadas. Agora o mais trágico é a morte dos mais novos e foram retirados da água cerca de 30 minutos após o ocorrido; Renan e Thaina, estão mortos.

Infelizmente no momento não havia salva-vidas no local e por um equivoco no endereço os bombeiros (que foram rápidos em sair do batalhão) demoraram a chegar cerca de 20 minutos e nesses casos cada segundo pode ser decisivo. 

Vale ressaltar que os homens e mulheres da policia, dos bombeiros, SAMU e os salva-vidas não mediram esforço em se arriscar para salvar essas vidas, mas, a falta de equipamento e apoio, sobretudo, dos salva vidas tem nome e ultimamente até numero para urnas eleitorais.

A vida precisa urgentemente ser levada a sério. O pior é saber que neste exato momento a mãe das crianças se encontra no UPA da cidade e a única coisa que ela irá levar para casa são os corpos de suas crianças, tão pequenas e tão desprotegidas.

Populares, Salva-Vidas, bombeiros e policiais tentam avistar a quarta vítima.
A menina Thais já foi transferida para um hospital com maiores recursos.

Nossa oração por essa família e por nossa cidade para que a morte deixe de ser uma realidade tão presente e que um dia também por essa terra a saúde se difunda.


Com pesar... Lucas Neto (direto da UPA - Guarapari)

domingo, 9 de setembro de 2012

A Fé e a Palavra


Diversas vezes nas escrituras, a iniciação a fé é apresentada como se fosse uma cura para a nossa surdez ou para nosso mutismo. Não é um acaso. A fé, uma vez vivida com radicalidade, faz com que o ser humano seja mais atento a palavra de Deus e o torna um anunciador da mesma palavra; por outro lado a ausência de fé, torna o ser humano surdo e mudo. A passagem da incredulidade à fé comporta, pois, uma cura do nosso mutismo e da nossa surdez (Evangelho de Marcos 7, 31-37).

O profeta Isaías, seguindo também esta lógica, considera a cura de uma moléstia física como libertação do defeito moral, imagina a futura restauração messiânica como uma intervenção de Deus para alívio dos deprimidos, dos cegos, dos surdos, dos coxos e dos mudos (Isaías 35, 4-7a).

Marcos integrou este milagre narrado em um ritual de iniciação batismal já existente; a passagem parece ser um eco disso. Os mais antigos rituais batismais já previam um rito sobre os sentidos (olhos em At 9,17; nariz e ouvidos na Tradição de Hipólito).

Aquilo que nosso Rito hoje traz como “Éfeta”, a ordem para que se abram os sentidos daquele que está sendo iniciado, e que por muitas vezes tem sido deixado de lado. O próprio Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) diz o seguinte a respeito do Éfeta: “Este rito, por seu próprio simbolismo, sugere a necessidade da graça para ouvir e professar a Palavra de Deus, a fim de se alcançar a salvação” (RICA nº. 200).

Nos ritos do catecumenato realizado em torno de suas etapas, maneira ordinária de se realizar a iniciação cristã dos adultos, naqueles que são chamados tempo de purificação e iluminação, mormente no sábado santo, nos ritos de preparação imediata, o sacerdote toca os sentidos dos eleitos e diz: “Éfeta, isto é, abra-te, a fim de proclamares o que ouviste, para louvor e glória de Deus”.

Infelizmente, o RICA ainda não está sendo aplicado com facilidade na maioria de nossas paróquias. Mas, a riqueza da espiritualidade que a liturgia da palavra de hoje nos traz. Me força a uma reflexão, a Iniciação Cristã precisa ser um momento impar, inesquecível, uma cura. E assim, nos levará a ter uma língua solta, os ouvidos abertos, e enfim, como Jesus Cristo, nós poderemos inspirar outros e outras a ouvirem melhor e a anunciarem com mais vigor.

Que o Cristo nos abençoe. E abra nossos corações a Graça do Pai.



Lucas Neto